Helder Martins - O moço de Angola
Atleta
surpreende em campeonatos locais e sonha jogar em equipa profissional
Dona
Tereza chega em casa do trabalho no fim da tarde e diz para o filho, Cleomar,
que teria uma novidade para contar. E ele, atencioso, coloca-se em posição de
escuta. Tereza começa a relatar que naquele dia conheceu uma nova família, uma
senhora e seus três filhos, que seriam estrangeiros, que falam português
fluentemente, que vieram da República de Angola, e que o rapaz mais velho teria
paixão pelo mesmo esporte de Cleomar: o futebol.
Cleomar
Vicente de Carvalho, conhecido como Paraná, ficou sensibilizado com a história
contada pela mãe. Dias depois, como bom anfitrião, vai conhecer a família
estrangeira e convida o novo amigo para um jogo em gramados santa-cruzenses.
Desde então, Helder Nilton Martins, de 1,86 de altura, canhoto, talentoso e já
se sentindo em casa em terras brasileiras, já mostrou sua habilidade em clubes
de Santa Cruz e em outras cidades da região.
Dois
anos se passaram. E hoje o Helder deixou de ser simplesmente o atleta
estrangeiro para ser reconhecido como o angolano bom de bola. Na última
partida, por exemplo, fez três dos quatro gols do seu time, o Juventus, equipe
que participa da Copa Cidade e que é comandada por Joel da Silva. O outro time
local em que ele joga é o Tijuanas. Mas antes de continuarmos essa história, é
necessário voltar no tempo.
Helder Martins, de 25 anos, conhecido como Angolano por sua nacionalidade, mostra habilidade nos gramados
Sonho –
O ano é 2011. Na Província de Moxico, a leste da República de Angola, o time de
futebol chamado Bravos do Maquis entra em campo aclamado por milhares de
torcedores locais. O jogo, da primeira divisão, é transmitido pela rede de TV
local. E um dos atletas é anunciado nos alto-falantes do estádio pelo primeiro
nome: Helder. O jogo começa e a equipe visitante sai na frente no placar. Mas
aos 44 minutos do segundo tempo, uma falta cometida próximo da área adversária
faria toda a diferença na vida do atacante que há três anos jogava no
clube. Conhecido pelo chute forte e
preciso, é ele quem toma a bola, acerta o gol no último minuto de jogo e é
ovacionado como herói da equipe.
Resultado:
a mãe, Erondina, começa a receber telefonemas sobre a façanha do filho e fica
confusa sobre a continuidade dele no esporte profissional. Ela, no entanto, não
se deixou levar pela euforia. Embora o filho tenha tido propostas até de times
americanos, dona Erondina entendeu que seria hora de o filho voltar a estudar,
pois entendia que o futebol não daria futuro a ele.
Agora,
cinco anos depois, e há dois morando em Santa Cruz do Sul, Helder torna-se
conhecido novamente por sua atuação em clubes locais. Com a vinda da mãe para o
Brasil, para fazer residência médica, o filho veio com ela e sonha competir em
algum clube profissional daqui.
Segundo o amigo, Cleomar, Helder teria plenas
condições de jogar em qualquer equipe, mas é pelo Esporte Clube Avenida que seu
coração bate mais forte. “Acho que se ele for bem orientado, pode contribuir
muito para alguma equipe profissional”, avalia Cleomar.
Helder,
além de jogar futebol, cursa Ciências Econômicas na universidade e deve
permanecer por aqui por mais três anos. “Por enquanto vou me dedicar ao futebol
e aos estudos. Vou ficar feliz se tiver uma oportunidade. Mas com o tempo,
depois de formado, quero voltar para o meu país e ajudar o povo de lá”, revela
o rapaz.
Publicado por: Jornal Gazeta
Fonte: http://gaz.com.br/conteudos/regional/2016/05/05/71677-vida_real_o_moco_de_angola.html.php